Vajont: onde o que era natureza se tornou tragédia e crime. No meio a mão, a inconsciência e os interesses do Homem.
Vajont: onde o Homem foi vítima do seu próprio progresso, descontrolado.
Para mim, desde criança, “Vajont” era uma grande parede de betão entre duas montanhas. Quando íamos de carro com os meus pais para os Alpes e, entretanto, chegava sempre o momento em que o meu pai comentava “Olhem lá, a barragem”. Eu e os meus irmãos colados à janela do carro. Entre nós e ela um rio, Piave, protagonista da história recente do meu país. Mas não é ele o protagonista desta história.
O protagonista é mesmo aquele muro: 262 metros de betão, auge da técnica e da engenharia. Como uma pedra que cai num copo cheio, molhando a mesa e a toalha, foi assim que uma das montanhas deslizou no lago artificial inundando os povos mais próximos com milhares de litros de água e detritos.
Eram 22h39 do dia 9 de outubro de 1963.
Foram quase duas mil as vítimas. Quatro povos que tinham estado impotentes a observar a construção da barragem durante quase sete anos desapareceram em quatro minutos.
Mas não foi um desastre natural, como muitos contaram e deixaram acreditar.
Não foi um erro técnico ou de construção: a barragem aguentou, estava bem construída.
Não foi erro, foi mesmo culpa. Culpa dos que queriam tirar o máximo proveito dos recursos naturais. Culpa dos que negaram a evidência dos perigos. Culpa foi do egoísmo e dos interesses de poucos.
Desde a madrugada do 10 de outubro de 1963 é sempre inverno em Vajont.
E a barragem continua lá, grande muralha brutalista apoiada à encosta, a alertar os homens.