23 DE SETEMBRO – 29 DE OUTUBRO DE 2021, 2.ª – 6.ª FEIRA (ENCERRA AOS FERIADOS), 17H00-20H00, FAUP

Exposição dos exercícios curriculares dos cursos da FAUP.


A edição de 2021 propõe uma reflexão sobre o processo de adaptação dos cursos da Faculdade aos novos desafios contemporâneos. Regista a diversidade de experiências de ensino-aprendizagem que a escola integra, desde aquelas vividas no espaço físico da escola até às condições particulares de utilização de meios de comunicação digital à distância que a circunstância pandémica impôs. Questiona o modo como o analógico e, sobretudo o digital, se reflectiram directamente nos processos académicos e que, perante novos desafios e exigências da sociedade, permitem situar-nos em novos tempos.

A exposição ANUÁRIA’21 é dedicada ao Professor José Quintão (1940-2021).

DA FORMAÇÃO EM ARQUITETURA: POR UMA PEDAGOGIA INTEGRATIVA NO ENSINO DE COMUNICAÇÃO DE PROJETO DE ARQUITETURA E DE FOTOGRAFIA DE ARQUITETURA, CIDADE E TERRITÓRIO

Pedro Leão Neto

 

1.1     NOTA INTRODUTÓRIA

O desenvolvimento deste texto tem como base os estudos na área da comunicação do projeto de arquitetura e do espaço urbano nas disciplinas de Projeto de Arquitetura Assistido por Computador (CAAD I e II), que agora propomos a nova denominação Fotografia e Projeto de Arquitetura Assistido por Computador (FCAAD I e II), articulados com a regência da disciplina de Fotografia de Arquitetura, Cidade e Território (FACT). Foi assim possível desenvolver um estudo aturado sobre o trabalho didático na área da fotografia e da sua prática, bem como consolidar um trabalho de investigação com maior profundidade e sentido critico sobre diversos métodos de representação da arquitetura, cidade e território, onde a fotografia se afirma como um elemento transversal a estas áreas de interesse.[1]

1.1     CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS PEDAGÓGICOS

As tecnologias digitais ligadas à Fotografia, Imagem e Comunicação do Projeto de Arquitetura são cada vez mais utilizadas, conjuntamente com outros suportes, sistemas computacionais e média, com origem quer no universo analógico, quer no digital[2].

Como é demonstrado por diversos autores, projetos e/ou trabalhos oriundos de diversas unidades curriculares de cursos de Arquitetura e outras áreas disciplinares afins, a Imagem e a Fotografia são instrumentos significativos de análise e representação do território e dos seus espaços e vivências[3], constituindo a Fotografia uma área de estudo que permite compreender de forma crítica a prática e disciplina de arquitetura[4], bem como um instrumento que pode ser utilizado de diversas formas no processo de comunicação e conceção do projeto de arquitetura:

·       no registo documental e ficcional dos lugares, permitindo compreender e comunicar a identidade desses lugares e integrar esse conhecimento e ideação no desenvolvimento do projeto de arquitetura;

·       na produção de imagens de síntese que combinam fotografia com modelação 3D, utilizando técnicas de fotomontagem e colagem, permitindo explorar diversas ideias de projeto, bem como idealizar de forma prospetiva novos espaços e intervenções nos lugares;

·       na exploração livre dos espaços e das formas, utilizando técnicas de edição de imagem quer analógica como em laboratório digital e combinando diversos métodos de representação e desenho;

Interessa assim uma coordenação vertical e horizontal das UCs de forma a assegurar a melhor cooperação e complementaridade possível entre si e com a investigação desenvolvida pelo grupo Arquitetura, Arte e Imagem (AAI), onde a Fotografia, o Editorial e o universo AAI está presente de forma significativa. É assim consolidado um trabalho de investigação com maior profundidade e sentido critico sobre diversos métodos de representação da arquitetura, cidade e território, onde a fotografia se afirma como um elemento transversal a estas áreas de interesse.[5]

1.1     O UNIVERSO TEÓRICO DAS UC FALANDO DOS AUTORES, TRABALHOS E TEORIAS QUE CONSTITUEM O FUNDAMENTO DAS UC

1.1.1      PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO EM PROJETO DE ARQUITETURA: FOTOGRAFIA E DESENHO

Relativamente à UC do primeiro ciclo FCAAD I, II onde o universo do Processo de Comunicação e Representação em Projeto de Arquitetura é nuclear é importante referir que a UC seja capaz de abrir horizontes para um campo de possibilidades (infinito e em constante evolução), combinando os vários modos de expressão e instrumentos analógicos e digitais para a comunicação do projeto de arquitetura.[6]

Neste contexto, a análise crítica e prospetiva do território de estudo através da fotografia e a comunicação do projeto e as ideias que as fundamentam são aspetos nucleares do ensino da UC, bem como são a capacidade de integrar os aspetos técnicos e artísticos e de utilizar os diversos instrumentos de representação como dispositivos mentais que levam a uma nova perceção crítica sobre o espaço de cidade, as suas vivências e o projeto de arquitetura.[7]

É assim introduzida no primeiro semestre uma significativa componente de fotografia de arquitetura, cidade e território que explora este modo de expressão e instrumento para questionar e problematizar, a diferentes escalas, o território em estudo, permitindo aos alunos desenvolverem uma capacidade informada e independente de pensamento, no sentido em que fala Victor Burgin[8].

Interessa-nos logo neste início do Processo de Comunicação e Representação em Projeto de Arquitetura explorar o potencial da narrativa visual fotográfica num suporte de livro/caderno. A produção do livro é na verdade um gerador para diversas reuniões de trabalho colaborativo e um instrumento mental e artefacto capaz de materializar determinado conhecimento, nomeadamente dar suporte a ideias de fotografia na arquitetura e arte.[9]

Numa fase posterior que é a do segundo semestre é possível aprofundar o desenvolvimento da narrativa visual criada anteriormente e enriquecer o Processo de Comunicação e Representação de Projecto de Arquitectura.  A componente de fotografia é assim articulada com a componente de fotomontagem, com o objetivo da ideação e exploração de ideias de arquitetura e construção de um atlas / laboratório de imagens.[10] Os alunos devem estar conscientes da relação entre perceção e visão, explorar esses dois universos, procurando mostrar como os dois se interligam e influenciam a nossa relação e compreensão do mundo real[11].

Interessa aos alunos revisitarem de forma critica e atenta obras e autores cujos trabalhos têm como objeto de estudo e artístico a arquitetura, cidade e território, bem como identificar o território-lugares-projeto através de um livro – mapa visual capaz de representar a múltipla complexidade, heterogeneidade e problemáticas que o território de estudo e projeto contém.O livro-atlas a criar será assim um mapa-registo temporal do progresso do trabalho e será constituído por desenhos, fotografia, texto e atlas / mapas visuais.[12]

Interessa dar aos alunos a consciência de que a nossa perceção das obras de arquitetura e do espaço em geral está ligado ao sentido de percurso que envolve movimento e deslocação e que um ponto de vista implica uma seleção que vai delimitar o que se mostra e o que fica invisível e que uma imagem constrói uma direção do olhar e uma série de imagens podem construir um percurso, mesmo que pré-determinado e mais abstrato do que um conjunto de imagens em movimento.[13]

É assim desenvolvido em suporte de livro um projeto visual que questiona o universo AAI e tem um entendimento da Imagem como “cosa mentale[14] capaz de ampliar uma prática de arquitetura ou teoria como instrumentos do pensamento e imaginação.

1.1.1      FOTOGRAFIA DE ARQUITETURA, CIDADE E TERRITÓRIO

O objetivo da UC do segundo ciclo é, por um lado, aprofundar o estudo e prática adquiridos em FCAAD I, II sobre a utilização da fotografia e do seu potencial para questionar e problematizar o universo da Arquitetura, Cidade e Território. Por outro lado, levar os alunos a desenvolver uma narrativa visual fotográfica com maior maturidade, capaz de comunicar novas perspetivas sobre o espaço e a realidade urbana e que possa constituir uma base para a sua dissertação final do MIARQ.

Interessa neste segundo ciclo despertar nos alunos a consciência para a existência de diversas estratégias e métodos de comunicação visual aquando da utilização de fotografia documental e artística como um instrumento de investigação. Ou seja, tomarem conhecimento sobre diversos métodos e instrumentos de investigação – qualitativos – onde a imagem de fotografia é utilizada como um significativo instrumento de pesquisa sobre arquitetura e a forma como as pessoas vivem e se apropriam dos espaços.[15]

É assim muito importante pensar e utilizar a fotografia como um instrumento de investigação livre com o objetivo de descobrir novas perspetivas sobre o espaço público e a sua arquitetura. Este potencial da fotografia para (re)descobrir novas realidades espaciais e arquitetónicas e assim influenciar a forma como percecionamos e percebemos os nossos espaços e cultura é algo que está presente no trabalho de muitos autores e em contextos muito distintos (Sugimoto 2003; Bandeira 2007; Costa 2009). Isto interessa-nos, acima de tudo, porque uma didática deste género leva os alunos a explorar e problematizar o potencial da fotografia e da imagem como forma de representar e questionar a realidade urbana e permite-lhes alcançar, durante o tempo da UC, um bom domínio artístico e técnico sobre a imagem e fotografia.

Resumindo, acreditamos que o mais importante é oferecer aos alunos um espaço pedagógico que os leve a construir a sua própria consciência social, sempre ligada ao espaço, através do conhecimento da riqueza multifacetada de perspetivas que existem sobre estas temáticas.  As narrativas visuais finais devem assim ser capazes de denunciar, por um lado, a postura visual crítica e a metodologia própria adotadas por cada grupo e/ou aluno relativamente aos espaços e vivências que eram comunicados e, por outro lado, uma atitude independente e um pensamento próprio.

1.1     SÍNTESE CONCLUSIVA E PROSPETIVA: DOCÊNCIA, INVESTIGAÇÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E ABERTURA DA ESCOLA DE ARQUITETURA E U. PORTO À SOCIEDADE

A pedagogia integrativa é assim uma das componentes estratégicas deste programa de ensino e resulta da significativa ligação das UCs à investigação focalizada em Arquitetura, Arte e Imagem (AAI) que é o universo nuclear de toda a investigação desenvolvida no AAI, onde os vários projetos estão integrados assim como diversas ações pedagógicas com elas relacionadas. Acreditamos que esta articulação próxima entre UCs e investigação reforça e dá condições de estímulo ao início da atividade científica e desenvolvimento de sentido crítico, criatividade e autonomia dos estudantes através da sua integração em equipas de projetos de I&D[14]. Na verdade, todas estas ações permitem aproximar cada vez mais, a investigação da docência e a integração dos alunos de unidades curriculares da FAUP e de outras instituições parceiras ligadas ao universo da Arquitetura, Arte e Imagem, através de estágios académicos, reforçando e dando condições de estímulo ao início da atividade científica e desenvolvimento de sentido crítico, criatividade e autonomia dos estudantes através da sua integração em equipas de projetos de I&D. Para além disso, estas diversas atividades partem de uma compreensão estratégica da imagem e do uso da fotografia enquanto meio de representação de ideias, explorando a arte digital e diversas estratégias de comunicação que permitem novas formas de interagir com diversos espaços e públicos.

Por fim, interessa chamar a atenção para o trabalho de inovação pedagógica que já foi iniciado, através do projeto de investigação VSC e da sua plataforma colaborativa utilizada pelas UC de FCAAD I, II e FACT na FAUP, da UC de Projeto do Mestrado em Design da Imagem (MDI) da FBAUP e da UC de Fotografia II da Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD).

Este trabalho de inovação pedagógica tem como objetivo aproveitar o potencial dos estudantes de arquitetura e das Artes para a utilização e exploração de um ambiente de trabalho colaborativo e de operadores específicos para as UC que exploram o uso da imagem e da fotografia para observar, analisar e teorizar diferentes dimensões do espaço com base em pesquisas visuais e evidências visuais e através de exercícios de análise e representação da arquitetura e do espaço urbano. Acreditamos que a evolução deste projeto de inovação pedagógica poderá contribui para alargar os horizontes tanto para o ensino académico como para a aprendizagem e investigação. Um projeto que pode ser a base para desenvolver um programa de aprendizagem especificamente concebido para a produção, organização e comunicação de informação visual relacionada com a transformação e apropriação da arquitetura e espaços públicos.

 

REFERÊNCIAS

[1] A este propósito podemos indicar como projetos, trabalhos e iniciativas ligas à investigação que se abrem para as unidades curriculares, entre outros, o projeto CONTRAST, com trabalhos de 9 Escolas de Ensino da Fotografia no Superior, Cityzines, a coleção de publicações alternativas que está sediada na biblioteca da FAUP, a publicação periódica internacional revista por pares SOPHIA: Journal on  Architecture, Art and Image, a publicação periódica internacional scopio International Photography Magazine e o livro “Álvaro Siza: Fotografia Documental e Artística – Um Olhar Contemporâneo sobre a Arquitetura Portuguesa, bem como o projeto de investigação financiado pela FCT VSC (http://visualspacesofchange.com/vsc/?page_id=136&lang=pt)

[2] Neto, Pedro; Neto, Maria. 2016. “(Re)descobrir os espaços de cidade: a fotografia como um dispositivo mental que pode levar a uma nova perceção sobre o espaço e a sua arquitetura”, Branca – Revista de Arquitetura da Universidade da Beira Interior 1, 1: 30 – 37;

[3] Nuno Faria em Sobre o Olim: “Feito de pequenos acontecimentos que se sucedem sem cronologia nem hierarquia, OLIM descende diretamente da linhagem do livro-atlas, o livro como caixa de ressonância, (I) que opera circulações entre mundos, (II) que não se encerra em si mesmo, (III) que não se fixa em nenhum tempo histórico.“ https://www.scopionetwork.com/blog/2020/05/06/olim-by-camilo-rebelo-pt?rq=OLIM

[4] Neto, Pedro (2018). Um Outro Olhar sobre Obras de Álvaro Siza Vieira: Fotografia Documental e Artística: Um Olhar Contemporâneo sobre a Arquitectura Portuguesa, scopio Editions

[5] “Com o objetivo de defender a arte como uma ocupação liberal era negar o papel desempenhado pela execução manual na sua criação. A pintura é uma ocupação mental” (pittura è una cosa mentale) escreveu Leonardo da Vinci.

[6] Gerber, A., et al. (2018). Handbook of Methods for Architecture and Urban Design, Triest Verlag.

[7] Burgin, V., Ed. (1982). Thinking Photography. Photographic Practice and Art Theory. London: Palgrave, Macmillan Press Ltd.

[8] Cityzines (2015). Pedro Leão Neto (ed.), Ana aragão, Elias Redstone, Ivo Poças Martins, Joaquim Moreno, Nuno Grande, Pedro Leão Neto, José Luís Neves. Scopio Editions. ISBN 978-989-976-99-3-9

[9] Galofaro, Lucas (2015). An Atlas of Imagination. Damdi. ISBN13 9788968010378; Eduardo Souto de Moura: atlas de parede, imagens de método/ ed. por André Tavares e Pedro Bandeira, Dafne Editora, Porto, 2011, sp.

[10] Rémy Zaugg: The Question of Perception Cat. Museum für Gegenwartskunst Siegen  Exhibition catalogue, edited by Eva Schmidt and Javier Hontoria texts (English) by Mathilde de Croix, Javier Hontoria, Eva Schmidt and texts by Rémy Zaugg: https://www.snoeck.de/book/336/R%C3%A9my-Zaugg%3A-The-Question-of-Perception

[11] Krasny, Elke (2004). The Force Is in the Mind. Birkhäuser Architecture; 1st edition. ISBN-10 : 376438980X

[12] Diversos exemplos poderiam ser aqui referenciados, estas publicações dizem respeito a trabalhos de alunos de Proyectos Arquitectónicos 1 de la Universidade de Zaragoza: Inaki Bergera et al. (2017). Lo doméstico, narrativas visuales, Prensas de la Universidad de Zaragoza, ISBN: 978-84-16935-88-8; Inaki Bergera et al. (2019). Objetos, arquitecturas e imágenes. Prensas de la Universidad de Zaragoza, ISBN: 978-84-1340-017-4; ; Inaki Bergera et al. (2018). Más por Mies. Casa Farnsworth. Prensas de la Universidad de Zaragoza, ISBN: 978-84-17633-30-1

[13] Podemos indicar diversos departamentos ou unidades curriculares em instituições internacionais e nacionais consideradas de interesse para este estudo como, por exemplo, só para mencionar algumas, a USC School of Architecture – California; Massachusetts Institute  of  Technology:  School  of  Architecture  and Planning; College of Arts and Architecture – Penn State, IUAV, Veneza; EPFL-Lausanne e ETH Zurich. A nível nacional podemos referir o projeto editorial CONTRAST que reúne docentes e trabalhos de 9 instituições de ensino superior onde a fotografia é ensinada, entre elas FAUP e DARC

[14] Iuliano, M., et al. (2012). Cambridge in Concrete: Images from the RIBA British Architectural Library Photographs Collection, Paparo; Bergera, Iñaki (2017). Photography and architecture: From technical vision to art and phenomenological (re)vision. In: Vision Technologies. The architectures of sight. Routledge (Francis & Taylor Group), London, New York. pp. 105-118. English. ISBN 978-1-4724-5496-6. Book edited by Graham Cairns.

[15] Neto, Pedro (2018). Um Outro Olhar sobre Obras de Álvaro Siza Vieira: Fotografia Documental e Artística: Um Olhar Contemporâneo sobre a Arquitectura Portuguesa, scopio Editions