O caminhar como ferramenta de investigação e percepção do espaço se constitui como potência na medida que permite sua investigação enquanto lugar em movimento. Indo de encontro ao inesperado, esse instrumento de pesquisa se configura, de acordo com o termo cunhado por Francesco Careri [1], como o caminhar como prática estética, atravessando espaços para assim entendê-los em seu completo devir, percebendo diferentes realidades, identidades e configurações.

“Dito de outro modo, a expressão italiana “andare a Zonzo” rememorada pelo arquiteto Francesco Careri, recupera a experiência da cidade passeada pelos flâneurs […] não nos interessa mais, a tradicional ordem que marcou uma interpretação clássica do espaço das cidades. Nos movemos nas conformações urbanas contemporâneas sob novas atmosferas, em trajetórias múltiplas e flutuantes, quase sempre instauradas por sistemas urbanos versáteis e não- lineares, cujas traduções primam por configurar disposições abertas à individualidade e à diversidade”. [2]  

A partir dessa abordagem, o presente trabalho pretende, através da fotografia, refletir sobre o bairro São João de Deus, reabilitado pelo Arquiteto Nuno Brandão Costa. Como uma ferramenta para conhecer, a presente narrativa desenvolvida tem o caráter exploratório e curioso, de observação de um território pertencente à cidade do Porto. Para esse objetivo, a análise partiu do entorno do bairro, ao explorar sua inserção na paisagem, o ritmo e padronização das edificações, bem como seus contrastes de cores. Como um percurso investigatório, o ponto de vista do observador aproxima-se por meio dos trajetos das ruas, calçadas e casas e atenta-se aos detalhes, por meio de disposição de esquadrias, variação das cores e texturas da materialidade, por exemplo, ao mesmo tempo que busca situar tais detalhes no entorno da cidade.

[1] Francesco Careri: Walkscapes, o caminhar como prática estética
[2] Evandro Fiorin e Maria Jose Luluaga Medici: Cartografia que Caminha, transurbanogramas na Ilha de Santa Catarina.