A fotografia é um meio de questionar e problematizar as relações entre Arquitetura, Cidade e Território. Neste projeto de narrativa visual, aplicamo-la de forma a perceber estas relações em escala análoga, com a tríade Edifício, Espaço Público e Estação de Metro. A narrativa visual é uma forma de relacionar transições espaciais, relações de luz, proporção e materialidade, além de leituras poético-espaciais a partir dos percursos promovidos pelo encadeamento das imagens em foto-livro.
Aqui, pretende-se perceber as conexões existentes entre o edifício i3S (Instituto de Inovação e Investigação em Saúde), pertencente à Universidade do Porto, e seu entorno imediato, com edifícios, espaço público e a estação Polo Universitário do Metro. O edifício é da autoria de Serôdio, Furtado Arquitetos e acolhe três institutos de investigação em saúde, além de investigadores de diversas faculdades da Universidade do Porto. O programa organiza-se por espaços de colaboração entre institutos, com áreas voltadas ao público no rés do chão e as salas de investigação e experimentos nos pisos superiores. Os espaços são articulados por vazios centrais, sempre marcados pela geometria do Betão aparente.
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A ideia de Ponto de Reflexão baseia-se no tema da reflexão tanto como fenômeno físico quanto ação mental após uma análise. A narrativa começa do exterior, de uma perspectiva mais ampla e quotidiana, mais próxima do ponto de vista de Paolo Rosselli[1], até um nível de abstração e detalhe típico da fotografia de Helene Binet[2]. É precisamente esta reflexão física, presente em superfícies espelhadas ou de vidro, que permite mostrar a ligação entre os três objetos de estudo: o instituto, o espaço público e a estação.
A narrativa divide-se em três partes: Explorar, Abstrair e Refletir. Esta partição pretende uma apropriação do espaço de forma gradual, como processo intelectual de exploração visual e abstração, partindo da simples identificação das paisagens e dos seus elementos constitutivos, chegando, por fim, à intervenção deliberada em busca de uma imagem construída. Como uma architectural promenade, as imagens ordenadas em cada parte procuram repetir o trajeto desde a estação do metro até aos interiores do i3S, em diferentes escalas e graus de abstração. O estudo das obras fotográficas de Paolo Rosselli e Helene Binet foi fundamental para o desenvolvimento de uma estratégia narrativa.
Em Explorar, as imagens tratam das primeiras impressões e sugestões, que se aproximam do impulso neurótico de P. Rosselli, ou seja, o registro das imagens que nos atraem por vínculos e referências geracionais, que constituem de forma subliminar o nosso imaginário visual. São as superfícies, as cores, as formas, os acontecimentos do quotidiano. Esta primeira parte constitui a fase de exploração do contexto, o primeiro contacto e a relação. São assim os detalhes, as cores, as formas, os acontecimentos do quotidiano que atraem a nossa atenção na mesma maneira do impulso neurótico. Nestes pontos atrativos, inconscientes. Também a elaboração fotográfica de H. Binet foi de influência fundamental, onde o olhar focaliza-se nos detalhes de luz, materialidade e linhas de construção.
Em Abstrair, a reflexão física utilizada é a que está puramente presente, nas superfícies do edifício ou no contexto do entorno. Espaços que, na realidade, se olham uns aos outros, relacionam-se, até que, nesta parte da narrativa, chegam até um ponto de abstração total. Sobrepõem-se através das superfícies refletoras já existentes e a reflexão ocupa toda ou a maior parte das imagens. Esta parte quer, assim, mostrar na mesma imagem as características, semelhantes ou diferentes, entre os dois ou mais espaços que se relacionam. São assim criadas espacialidades irreais, usando o real.
Em Refletir, há a utilização do espelho no espaço como um meio de reflexão física e mental. Trata-se de um jogo de palavras com o verbo refletir, que atende aos dois significados: “reproduzir imagem” e “pensar sobre”. Portanto, esta parte reúne fotos que procuram concentrar a atenção em pontos críticos, detalhes.
À narrativa, acrescenta-se a materialidade do edifício do i3S, caracterizada por ambientes fechados, introspectivos, pelos quais se nota o exterior de forma pontual. Trata-se de uma materialidade bruta, ora de superfícies rugosas, ora de superfícies lisas, dependendo do tratamento dado ao Betão. Precisamente iluminado, natural ou artificialmente, o i3S apresenta espaços de diferentes linguagens às imagens, desde o bloco acústico às paredes estruturais. Estas materialidades atuam diferentemente quando iluminadas. Os blocos acústicos dão ritmo e identidade ao interior, que pode ser associado a um tempo lento de espaços introspectivos. Mais do que entender a fotografia como forma de estudo e compreensão da arquitetura, pretendemos utilizá-la também como instrumento de questionamento e crítica ao edifício estudado, uma vez que procuraremos registar na parte final do projeto intervenções deliberadamente dispostas pelo grupo, a partir de espelhos que convidam às paredes interiores de Betão o espaço exterior na forma de detalhe, o Refletir.
[1] Paolo Rosselli (1952-), fotógrafo italiano nascido em Milão, formado em arquitectura pelo Politecnico di Milano.
[2] Helene Binet (1959 -), fotógrafa suíça nascida em Sorengo, formada fotografia pelo Istituto Europeo di Design de Roma.