Observar para querer perceber. Perceber para construir. Construir para praticar.
O simples ato de observação permite a captação de inúmeros detalhes que nos encaminham para outros sentimentos promissores de opiniões e relações com o espaço em si. Cada traço num papel é algo prestes a ser edificado e todos esses pensamentos riscados são fragmentos de uma obra.
Assim, nasce o título FRAGMENTOS. O nosso percurso de desenvolvimento deste trabalho iniciou com a primeira visita à faculdade a qual nos levou a traçar um percurso delineador dos próximos passos. A sensação do lugar e o querer habitar o mesmo faz dele o que realmente é. É o que cada um acrescenta, a forma como o experimenta, a utilidade que lhe dá, a função que desempenha. E do nada, na realidade, são apenas quatro paredes, que adquirem personalidades das atividades que definem o habitar do espaço.
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“A arquitectura é uma coisa que engloba vida, espaço interior, contradições. Contextos diferentes dão edifícios diferentes.”[1]
No presente trabalho o lugar é a Escola Superior de Artes e Design, por si só um espaço repleto de diferentes personalidades que se desdobra em múltiplos momentos. Num primeiro instante iniciamos uma promenade que nos levou por linhas ferroviárias até a um hall de entrada, frio e monocromático. Abrimos aso da imaginação e inserimo-nos naquele espaço como se lhe pertencêssemos, com a expectativa de tentar perceber como é que o mesmo se moldava as rotinas e atividades que o caracterizavam. Apoderamo-nos nos sentidos e absorvemos o que nos rodeava. “Aprender a ver, que é fundamental, para um arquiteto e para todas as pessoas. Não só a olhar, mas a ver em profundidade, em detalhe, na globalidade.”[2]
Com passos percorremos corredores, espaços exteriores, texturas, aberturas de luz, pátios, salas de aula, sítios expositivos… e num abrir e fechar de olhos, o pequeno era grande, os corredores não eram só corredores… todos os espaços tinham algo mais a dar que num primeiro momento não era percetível. Começamos a perceber de pormenores que antes pareciam não estar ali, mas que no fundo eram eles que caracterizavam e davam voz ao espaço. Caixilharias, elementos estruturais, objetos descartáveis, bancos, caixotes do lixo… pormenores que normalmente são escondidos e aqui são elementos de destaque e assumem cores que dão ao espaço outro sentido.
“O arquiteto imagina o pó e os tripés dos topógrafos, os sobreiros tombando de asas abertas, a crueza dos muros entre jardins e telhados, mulheres de negro espreitando, sobressaltadas, por trás das gelosias (…). O que imagina faz-se presente e tomba sobre o chão ondulado, como um lençol branco e pesado, revelando mil coisas a que ninguém prestava atenção: rochas emergentes, árvores, muros e caminhos de pé posto, tanques, depósitos e sulcos de água, construções em ruínas, esque- letos de animais.”[3]
Assim, este percurso serviu de motivação para o desenvolvimento no trabalho, onde pegamos nos “fragmentos” e através da fotografia e da edição lhe demos ainda mais destaque prenunciando a sua cor: vermelho, para a continuidade das fachadas monocromáticas e interiores da Escola. Como prenunciador de uma promenade em analogia coma a personificação da nossa presença no espaço escolhemos um elemento: o Cubo.
O Cubo percorre o nosso trabalho e marca presença em múltiplas fotografias, com a finalidade de ser um agente que marca o significado atribuído a faculdade e o transporta por todos os espaços como uma personificação de todas as personalidades que diariamente habitam a Escola. Desta forma o cubo assume-se como um agente simplificador do espaço que não quer apenas habitar, mas sim fazer parte dele.
[1]Ver “Entrevista Publico – Álvaro Siza Vieira” em https://www.si.ips.pt/ese_si/WEB_BASE.GERA_PAGINA?P_pagina=28247
[2]Ver “Álvaro Siza: Biografia, Obras e Frases Famosas Deste Grande Arquiteto” em https://www.vivadecora.com.br/pro/alvaro-siza/
[3]SIZA, Álvaro – “Quinta da Malagueira” (1990). In SIZA, Álvaro; MORAIS, Carlos99 (org.) – 01 Textos. Porto: Civilização Editora, 2009, p. 15.