A conexão que mantenho com o território de Santa Maria da Feira, onde nasci, fortificou-se na minha saída para o centro do Porto. Existe uma forte influência dos ícones deste lugar no meu trabalho e na minha prática artística. Depois de trabalhar com o mercado municipal como catalisador, adotei o comboio do Vouga como força motriz de um trabalho essencialmente fotográfico. Recentemente, o rio Cáster, que humildemente banha a Feira, recativou-me o olhar e a memória. Na busca pelas suas nascentes que nunca tinha conhecido, procurei no Google Maps, sítio onde acreditei puder encontrar quase tudo; não obtive nenhum resultado. Uma busca no Google, nunca levou às coordenadas do sítio nem a indicações suficientes para o encontrar, apenas encontrei o que já sabia: Sanfins.
Comecei então a contactar amigos e conhecidos da zona de Sanfins em busca de quem me levasse às nascentes e, depois de uns contactos, cheguei ao número de telefone de Alberto Tavares, nascido e criado em Sanfins. O Sr. Alberto, prontamente se ofereceu a desbravar os matos de Sanfins comigo, empunhando também ele a sua máquina e fomos então a 2 das 3 nascentes que formam o Rio Cáster. A outra foi coberta com uma urbanização que nem o Sr. Alberto conseguia identificar muito bem. Mas juntos seguimos até às nascentes do Vergado e de Santo Aleixo e ao local onde todas se juntam no Rio Cáster.
Neste trabalho, reflito sobre o que é uma nascente e sobre o que, nascer em Sanfins, diz de um rio. Rapidamente, todas as pessoas que encontrei neste trajeto, se misturaram com o rio, assim como as infraestruturas que conheci no seu decurso.
A narrativa que escolhi na sequência das imagens desenha-se no trajeto guiado pelo Sr. Alberto (que aparece na segunda imagem), na passagem pelo abandonado Multi Desportivo de Sanfins, a pouquíssimos metros da nascente de Santo Aleixo, pelo tanque do Vergado e de uma forma particularmente importante, na “casa das águas”.
A “casa das águas” era o centro de distribuição da água do Cáster, quando ela ainda era consumida em terras feirenses. Foi um sítio que me absorveu imediatamente. Alí, a água corre com força considerável e passa por uma estrutura que já foi de tratamento, mas que agora não é de nada. Simplesmente existe, a água corre, abundante e limpa, e não vai para lado algum.