CONTRAST: UMA EXPOSIÇÃO ONDE MEMÓRIA, IDENTIDADE E LUGARES SE INTERRELACIONAM DE FORMA RIZOMÁTICA

No espaço expositivo da Biblioteca da FEUP existe uma circularidade inerente evocada pelo discurso visual e gráfico singular do livro enquanto objeto de narração. Os spreads que compõem os painéis no espaço expositivo têm assim como origem a publicação que explorou o potencial específico do livro físico como meio único de comunicação de narrativas visuais não lineares, onde a ficção e realidade se misturam de forma imaginativa.

Esta estratégia, entendida como extensão do objeto nuclear livro (Contrast II), vai ao encontro da ideia de Umberto Eco de que os livros não são artefactos intocáveis e que a possibilidade de personalizar e mesmo ir mais longe, prolongando o livro através de outros suportes, é da maior importância para marcar o seu interesse e estudo posterior.

Estamos assim perante um conjunto de projetos fotográficos que denotam diversas estratégias, diferentes problemáticas e discursos visuais, onde há lugar tanto para o real e coerência, como também para o paradoxo e brincadeira, o oximoro[1], onde memória, identidade e lugares se interrelacionam de forma rizomática.

Na verdade, a espantosa diversidade de imagens fotográficas, umas herméticas e frias no seu processo de fechamento, outras mais acolhedoras e reveladoras de uma significativa intimidade psicológica, reorganizam-se nos painéis da exposição tendo como base a lógica narrativa de cada autor do livro. A ligação entre os diferentes projectos é estabelecida através da interação de cores e padrões que inevitavelmente flutuam, tal como algumas das imagens ascendem ao vazio dos painéis.

A exposição interpela os visitantes a procurar um significado nos fragmentos de viagens e projetos que nos mostra através de imagens combinadas com diversos pensamentos, algo que o aproxima do conceito de opera aperta de Umberto Eco[2] porque possibilita várias interpretações.


[1] The following note first appeared in Aperture magazine #217, Winter 2014, “Lit.” Subscribe here to read it first, in print or online. | Walker Evans & the Written Word by David Campany (…) Any test met is part of one’s development.” He understood the deep connections between photography and literature. “Photography seems to be the most literary of the graphic arts,” he reflected in his chapter written for Louis Kronenberger’s anthology Quality: Its Image in the Arts (1969). “It will have—on occasion, and in effect— qualities of eloquence, wit, grace, and economy; style, of course; structure and coherence; paradox, play and oxymoron.” (…) https://aperture.org/blog/walker-evans-written-word/

[2] Umberto Eco, Obra Aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2005.