A fotografia acontece, de cada vez, como um risco (arriscado) que surge sobre o branco imaculado — um sinal que macula o intocável que é o papel virgem, nunca antes exposto, mas sempre à espera desse momento: de um raio de luz que beije.
A escrita que nasce revela um desenho que surge pelo meio da floresta, composto por linhas que o nosso olhar percorre — linhas que saem da terra e da neve hirtas e viçosas ou entram nelas caídas, encurvadas e formam desenhos que a atenção do olhar fixa, que o movimento da mão que escreve prolonga. São desenhos físicos e envolventes, desenhos que estimulam o pensamento e que se formam, também, através daquilo que do pensamento transborda.
Com as imagens escrevo, com as palavras imagino: crio imagens. A que escreve é, portanto, aquela que observa — a que observa é aquela que escreve: ambas a mesma, atravessadas pela poesia, que guia, que desenha, que apresenta o gesto, repetidamente, sem fim.